sábado, 6 de junho de 2020

A ferida aberta vem da infância



Pra ilustrar melhor resolvi contar um pouco dessa minha saga. Sim, porque me lembrei que meu objetivo é contar minha história e não ser um livro de auto ajuda. 

Dizem que a codependencia tem origem na nossa infância. Então vou contar um pouco do que eu conto nas minhas sessões de terapia. 

A romantização das migalhas.

Era uma vez uma menina apaixonada pelo seu pai. Um amor enorme, sem explicação, que só mesmo o vínculo sanguíneo poderia explicar. Mas esse pai, era um pai um tanto ausente. Nós não o víamos com tanta frequência como víamos minha mãe. Ele trabalhava fora, fazia "plantões", as vezes trabalhava a noite e finais de semana quando não estava em casa nos pedindo para fazer algo como cortar grama, limpar as grades, estava fazendo churrasco, ou vendo corrida de fórmula 1. Todos os dias ele vinha almoçar em casa. Mas era um pai silencioso. Quando falava certamente era pra "educar". Coloquei entre aspas por que tenho certeza que ele realmente acreditava que estava nos educando , mas na verdade recebíamos só como um momento de tensão, com palavras duras, sempre criticando, e essas palavras nos feriam muito. E infelizmente projetou algumas crenças limitantes em nós. Quando falo nós, estou me referindo a mim, ao meu irmão e minha mãe. 
Mas eu era essa menina apaixonada. Sempre achei meu pai muito inteligente. Eu me parecia com ele fisicamente. Ele me pedia pra coçar a cabeça dele depois do jantar, e ele fazia cara de que gostava muito. Eu me sentia muito importante. Depois mais crescida, em alguns momentos que podíamos conversar, sempre durante as refeições, percebi que eu tinha o poder de debater as idéias dele. Era mágico ver meu pai escutando o que eu tinha a dizer. Na verdade eu não sei se ele escutava mesmo, ou só gostava de provocar pra ver minha reação. Mais tarde ele quis que eu fosse advogada, pois ele achava que eu falava bem. Então concluí que ele devia me escutar mesmo. Mesmo não concordando e debatendo comigo. Agente falava em voz alta, era emocionante. Mas só pra mim e pra ele. Por que minha mãe e irmão sempre viram isso como discussão. Minha mãe odeia que a gente fale alto. 
Bom, além dessas coisas tinham outras que eu sempre amei no meu pai. Eu sempre amei a temperatura corporal dele. Ele tinha mãos muito quentes e essas mãos faziam passar qualquer dor. Eu também gostava muito de abraçar ele, mas ele nem sempre nos abraçava. No máximo levantava um dos braços e colocava a mão sobre nossas costas. Ele tinha um jeito durão de falar, uma pose que se fazia respeitar em qualquer lugar. Então me dava a sensação que ele podia resolver qualquer problema. E mais uma coisa! Nós , só nós dois, fazíamos contas de um jeito que só a gente entendia! Uma lógica totalmente inversa. E me divertia muito em ver como eu era parecida com meu pai. 
Bem, deu pra ver o quanto eu romantizava essa relação. Fato é que toda vez que ele pegava aquela garrafa de conhaque e se servia misturando com mel, a gente já sabia que alguém ia sair chorando da mesa. 
E muitas vezes eu ia atrás dele. Ele se sentava numa sala ao lado, no escuro. As vezes colocava uma música, e eu sentava no sofá da frente.  Ficava ali olhando ele. Esperando alguma brecha pra conversar. As vezes eu falava, mas não sei se ele me escutava. Mas eu me sentia importante e amada daquela forma. Éramos cúmplices. 

Eu cresci. E de alguma forma, assistir novelas e filmes na tv me fez por um lado romantizar a vida e por outro ver coisas demais. 
Eu já era pré-adolescente. Meu pai sempre quando chegava as férias de verão nos deixava na casa de praia do meu avó e voltava pra cidade pra trabalhar. A gente passava as férias com meu avô paterno, minha mãe, e as vezes com meus primos e tia. 
Numa dessas voltas pra casa eu achei um batom na área de serviço e entreguei pra minha mãe.  Pouco tempo depois encontrei grampos de cabelo com cabelos compridos no banco de trás do carro, e também entreguei pra minha mãe. Minha mãe sempre usou cabelo curto. Nessa época meus pai brigavam bastante e eu e meu irmão sentávamos na escada pra ouvir a discussão. 
Em uma noite, em que minha tia paterna estava em casa, tocou o telefone e eu atendi. Era um homem, que perguntou se era a casa do Paulo. E eu disse que sim. Pediu então pra falar com minha mãe. Era o marido da amante do meu pai. Meu pai não estava em casa, pra variar. 
Naquela noite minha mãe chorou, minha tia tentou acalma-la mas só o que ouvi foi que minha mãe tinha que tomar alguma providencia. 
E minha mãe tomou. Naquele dia minha mãe foi dormir no meu quarto. Ela pegou uma parte do estrado da cama que eles tinham e colocou ao lado da minha cama. Dei a mão pra ela. Ela chorava. Não falamos mais nada. 
Minha mãe queria se separar mas demorou pro meu pai sair de casa. Ele se mudou pra um quarto no andar de baixo e só saiu de lá quando o oficial de justiça fez ele sair. 
Eles se separaram, eu tinha 13 anos. 
Acho importante colocar mais algumas coisas: 
Nós morávamos em um sobrado reformado enorme, com um carro grande na garagem, um barco também. Mas minha mãe e meu pai não tinham cama, tinham um estrado apoiado nuns tijolos de cimento. Os móveis da minha casa estavam caindo aos pedaços, os poucos que tinham. A cozinha tinha sido feita e também um armário no meu quarto. O resto era tudo improvisado. Minha mãe costurava e reformava minhas roupas e do meu irmão. Ela também costurava as roupas dela. Enquanto meu pai , se vestia bem, jaqueta de couro, andava em um carrão e viajava em excursões para pescar, em São Paulo, Pantanal e nem sei mais por onde. Estou contando tudo isso por que hoje vejo que meu pai se comportava como uma pessoa tóxica, ou um dependente químico. Hoje acredito que meu pai seja realmente um dependente químico. Mas eu perdi o contato e convívio com ele, por isso não posso afirmar. Mas ele, sempre procurou ter o melhor pra si, e nós, nos virávamos com as migalhas. 

Eu persegui essas migalhas por muito tempo, em busca do amor do meu pai. Sentia pena dele. Quando chegava a quinzena do fim de semana pra ir visitá-lo, eu fazia questão de ir. Convencia meu irmão, que nunca queria ir, a ir também. Meu pai sempre com uma namorada nova. Me lembro da primeira vez que ele serviu a namorada com um pedaço do churrasco que ele sempre guardava pra mim. Nós tínhamos um quarto pra cada um na casa dele, com tv e computador. Mas nossos quartos eram no andar de cima. O dele era em baixo e a porta estava sempre fechada com ele e a namorada dentro, e nós pra fora. Depois de um tempo naturalmente eu e meu irmão não queríamos mais ir. E ele sempre nos jogou na cara que nós o abandonamos. Tirem suas próprias conclusões. 

Hoje eu não tenho mais contato com meu pai, já fazem mais de 5 anos. A última vez que falei com ele foi quando minha vó paterna faleceu. Nessa época ele já me evitava. Quando eu ia na casa da minha avó, ele nunca estava. Um dia escutei minha avó no telefone, era ele perguntando se eu já tinha ido embora. 
Um dia depois que minha vó morreu eu liguei pra ele. Pra saber como ele estava. Nesse dia ele disse abertamente pra mim não procurá-lo mais, que ele não queria mais ser meu pai, que era pra eu fingir que ele estava viajando. Foi a pior dor que já senti na minha vida. Eu senti o luto por alguém vivo. Eu senti como se meu pai tivesse morrido, mesmo sabendo que ele estava vivo. 
Segue o que escrevi na época:
O PAI QUE NÃO QUERIA SER  PAI

E começaremos pelo fim. Quando finalmente ele assume e diz: “Me deixa em paz, vai viver a sua vida! Tá bom assim...”  E a filha ainda se preocupa:" Mas pai eu te amo! Sinto saudades!  "
- “Então finja q viajei...”
E a conversa acaba com um "Vá, vá, vá..." e um telefone desligado na cara...
Fato é que quando erámos bebês, talvez esse pai gostou de ser pai desses bebês. Mas esqueceu que amor é afeto natural dos filhos pra um pai que deve ser regado e cultivado. Esse pai cresceu ausente. Com uma cadeira virada de lado. Cadeira comprada especialmente para na hora da janta ter essa característica. A de se isolar. Enquanto mãe e filhos conversavam e riam, pai se virava e preparava sua dose de conhaque com mel. E junto dela já sabíamos que viriam os berros. " Depois de muito riso vem o choro" ou seria depois de muito álcool vem a agressividade? Pronto, tinha feito seu papel de pai. Palavras duras pra cá. Como você não presta pra lá. E cada um pro seu quarto chorar. E o tempo passou. Dentro da casa enorme de 4 quartos, 3 banheiros, 3 salas, móveis velhos caindo aos pedaços, tênis apertados e roupas curtas, mas na garagem um barco e a caminhonete imponente. " Já aprendeu a assobiar? Por que é o que vai ter que saber pra ser lixeiro! Burro do jeito que é... "
Eu escondia meu boletim, por que minha paixão por estudar fazia minhas notas serem azuis, mas não queria adiantar esse episódio pro meu irmão, que era aluno regular, e por vezes tinha notas abaixo da média. Hoje formado na sua área, é profissional de destaque,  e chefia uma grande equipe em sua área. Você estava errado pai! E além de assobiar, ele é multi-instrumentista, um dos melhores q já vi!
O tempo passava.Nas férias ele nunca estava, viagem pra pesca:  Pantanal, Mato Grosso, Goiás. Me pergunte o mais longe q fui? Você vai rir...
Um grampo de cabelos com fios loiros e compridos, no banco da caminhonete entrego pra minha mãe, que tem cabelo curto. Acho que ele nunca soube que fui eu. Um batom vermelho na lavanderia de casa, entrego pra mãe, não sei se sabe que fui eu. O telefonema do marido da amante: "Alô? Mãe é pra você" .  É o começo do fim.
A gente sempre escutava :"Eu nunca quis ter família" "Eu não sirvo pra ter família". Ficamos com minha mãe. Podíamos escolher. Eu tinha 13 anos.
Visitas pro meu pai: quarto fechado, namorada lá dentro, passei o fim de semana vendo tv. Podia estar em casa com meus amigos... Meu irmão aos poucos não quer mais ir. Eu continuo indo.  Quero ter um pai. Já tenho 18 anos. Ele mora na casa de uma namorada bem de vida...  “Pai posso fazer uma tatuagem? Uma flor no braço?” Autorizada, fiz.
Tempo passou. Passei na faculdade, depois de fazer o curso de moda, que ele achava que não servia pra nada, passei em licenciatura em artes, em terceiro lugar, faculdade pública! Não em direito como ele queria.
Engravidei, um amor que deu errado, me deu uma filha linda! E ele tentou ser avô. Era tarde.  Acho que minha filha sentiu a rejeição que ele teve por mim enquanto eu estava grávida, e as asneiras que ele me disse quando eu contei que estava. Ficou sem falar comigo até minha filha nascer. Depois a aproximação foi difícil.
Passamos tempos bons, tenho saudades. Ele se aposentou, disse que poderia se aposentar melhor se não tivesse que ter  a pago as pensões e plano de saúde pra mim e pro meu irmão. Passei em concurso público, como ele queria, três empregos, stress, problemas emocionais, avô materno com Alzheimer, eu sozinha de tudo, adoeci! Depressão, pânico, bipolaridade, internada. Eele ia me visitar, me surpreendeu! Achei q íamos ter uma chance. Recebi alta , ele sumiu. Fui atrás dos meus sonhos: fiz um curso de tatuadora, virei tatuadora, fiz mais tatuagens. Comprei meu apartamento e ele resolve me ajudar a me dar o piso, mas ai certo dia ele faz uma conta de Facebook, me adiciona, acho legal, 10 minutos depois o inferno está instalado. Ele começa a comentar pejorativamente e responder ofensivamente meus amigos. Manda mensagem privadas ameaçando um deles, que me procura. Entro em contato por telefone com meu pai. Ele estava bêbado. Me xinga e desliga o telefone na minha cara. No outro dia manda recado pelo meu irmão para suspender o pagamento do piso. 3 anos quase sem falar comigo, ignorando meus contatos, minhas mensagens, saindo de casa quando eu ia visitá-lo pra não me encontrar. E essa semana resolve assumir que desistiu de ser pai. Pensando bem acho mais honesto. Acho que finalmente teve coragem de assumir algo que talvez nunca tenha desejado. Acho que tentou algumas vezes. E eu sinto muito de verdade por este sentimento não ser assim tão natural pra você como é pra mim . Hoje eu estou vivendo um luto em vida. Por que aqui, eu tive usar dessas palavras pra me ajudar a entender o que esta acontecendo. Mas meu amor por você nunca vai morrer. Minhas lembranças do pai que cortava a melhor fatia de carne do churrasco pra mim , da menininha que ficava sentada na sala junto com você no escuro escutando música a noite, do beijo antes de dormir, do calor da sua mão que cura, do seu jeito durão que me salvou no hospital mandando os médicos fazerem os exames corretos, o seu sorriso, e o nosso jeito particular de fazer contas, o cafuné que eu fazia na sua cabeça...e muitas, muitas outras coisas q só eu sei.
Não há desculpa que você use, seja minha religião, minhas tatuagens, ou qualquer das minhas escolhas que justifiquem o que você escolheu. Sua escolha, é sua escolha. Por que eu não te fiz nada. Sempre e sempre só te amei. Mas sempre e sempre foi tão difícil chegar perto de você.


Meu pai nunca seguiu nenhuma religião. A primeira tatuagem que eu fiz ele autorizou, e eu já tinha 20 anos. Me tornei tatuadora com 27 anos, e nessa altura do campeonato eu já era uma mulher de 30 anos, com uma filha e carreira bem estabelecida. Ou seja, essas justificativas eram furadas. Ele simplesmente assumiu que não queria ser pai.
Meu pai é uma cara difícil. Não fala mais com ninguém da família dele. Ele se isolou do mundo. Vive com a namorada. Tomando suas doses de vodka.  Já tentei mais de uma vez me reaproximar, mas só recebi insultos. Decidi então que a forma que eu tenho de amá-lo é respeitando as escolhas dele. 

terça-feira, 2 de junho de 2020

Codependencia

Na verdade desde que minha mãe cuidava do meu avô com Alzheimer já ouço falar deste termo. Na época minha mãe era tida como codependente do meu avô. E é verdade. Codependentes também são as pessoas cuidadoras que acabam adoecendo junto com quem esta sendo cuidado. Tem a ver com querer salvar o outro. E para isso nós acabamos esquecendo de nós mesmos, passamos a viver a vida do outro, a respirar pelo outro, a decidir e se responsabilizar por tudo que o outro faz. Sofremos. Adoecemos.
No meu caso essa palavra veio de encontro a mim quando estava lidando com a dependência química do meu marido.

Foi um choque.

As duas coisas: Eu descobrir que ele era dependente químico e eu depois descobrir que era codependente.
A verdade é que faz muito sentido. Todas ou 99% dos relacionamentos que eu tive eu lidei com pessoas que eram dependentes químicos, ou precisavam de algum tipo de cuidado. Inconscientemente eu escolhia estas pessoas. Agora vejo que minha codependencia gritava para que eu achasse alguém a ser salvo. Parece engraçado né? Talvez me achem burra. Mas a verdade é que eu não tinha noção que procurava por isso.
O codependente precisa se sentir util, precisa se sentir importante, precisa que alguém precise dele, que alguém diga que não consegue viver sem nós.
Amor próprio. Isso que nos falta. Aí a gente fica procurando e criando amores em outras pessoas. Nesse jogo, agente acaba por querer controlar a vida da outra pessoa. Somos dependentes emocionais.
E eu só percebi isso agora. Porque por mais que eu já tivesse experimentado viver relações tóxicas, eu nunca havia entendido, o porquê deste padrão se repetir na minha vida.
Dizem que os padrões se repetem até a gente aprender.
E eu sempre achava que isso era injusto comigo. Por que eu achava que o aprender era não se permitir ficar numa relação abusiva. e como eu terminava as relações, pensava: Agora me libertei desse padrão! Aí conhecia outra pessoa, que parecia um anjo, e tempos depois, tempo suficiente pra eu estar bem envolvida, o ciclo se reiniciava.

Então vamos entender isso:

Será que eu eu realmente era enganada? Será que não dava pra perceber logo de cara que era outro caso igual?
Bom, dependentes químicos são inseguros. Então quando conhecem alguém agem exatamente como nós, dependentes emocionais: bajulam, fazem de tudo pela pessoa, são as pessoas mais legais, prestativas, interessantes, inteligentes, sexys ( e aqui cabe todos os adjetivos de conquista que você quiser colocar).  A questão é que, depois de um tempo essa insegurança vem a tona, e se transforma em ciúmes, em paranóias, em uso de drogas (no caso dos dependentes químicos), em brigas , e se torna um ciclo sem fim. A casa cai. Literalmente.  E por que isso acontece? Por que não dá pra esconder nossas fraquezas o tempo todo né? Então no mesmo instante que o dependente químico começa a se comportar diferente, quando ele abandona o papel de príncipe encantado, ele aciona em nós, codependentes o papel da salvadora, da heroína.
Em alguns casos, e já aconteceu comigo, você inicia uma relação já querendo salvar a pessoa. É muito insano. A pessoa não tá nem ai pra você, te usa como cano de escape, te dá todos os sinais que não esta interessado, mas você insiste. E não só isso, você convence a pessoa do quão sensacional você é. O sexo então, é o que há. Você nem é tão feliz sexualmente, mas faz questão de ser inesquecível. Faz questão de ser necessária. Você começa a fazer coisas do tipo: dar carona, levar e buscar de lugares, emprestar dinheiro e outros objetos, até o carro, comprar presentes, comprar remédios, comida, em fim. A gente faz coisas acreditando que esta sendo uma pessoa legal. Até que o outro realmente começa a jogar seu jogo, e começa a te solicitar pra tudo. Neste momento você percebe que não tem reciprocidade, não se sente amada do mesmo jeito, e bingo! A casa cai. Literalmente de novo! Brigas e mais brigas, e como é uma coisa insana, começam as agressões, e pode acabar muito mal.
Eu tive três episódios de agressões físicas. Nenhuma delas eu fui totalmente santa. Nada justifica uma agressão, nada. Mas o fato é que eu também agredi, com palavras, gritos, xingamentos, e também com tapas, mas principalmente tirando o direito da pessoa fazer as próprias escolhas.
O padrão de comportamento codependente, não aparece só nas relações amorosas ou familiares. Aparece em tudo na nossa vida: trabalho, amizade, a maneira de pensar, de se exigir de exigir do outro. Você sempre acha que tem uma idéia melhor, que se fizer sozinha vai dar certo, pega o trabalho do outro pra fazer, não se contenta em fazer só sua parte, quer tudo perfeito ( na sua perfeição) , não lida bem com surpresas, imprevistos, desvios de caminho, pergunta o porquê de tudo, se acha muito inteligente e generosa, dá conselhos mesmo quando ninguém te pede, tem sempre a sua história pra contar, além de sofredora né? Por que todo codependente sofre. E junto com o sofrimento vem de brinde o vitimismo.
Não é nada fácil me admitir assim. Até ontem achava que eu estava fazendo um bom trabalho seguindo aquele mandamento de "amar ao próximo". Eu só esqueci de considerar a segunda parte: "como a ti mesmo". Nunca fez tanto sentido na minha vida a máxima: "de boas intenções o inferno esta cheio". Independente da visão espiritual que você tenha sobre inferno, vamos considerar que é um lugar pra onde vão espíritos que não conseguiram evoluir, ou que cultivam em si mesmos sentimentos negativos, como raiva, ciume, rancor, ódio. Então refletindo sobre isso, o que minhas "boas intenções" me trouxeram? Me fizeram eu me afundar num desamor, num rancor, em mágoa, em vitimismo . E por mais que parecesse que eu estava fazendo a coisa certa, eu não estava respeitando uma das principais leis divinas! Que é o livre arbítrio! A liberdade do outro fazer suas escolhas e arcar com as consequências, sejam negativas ou positivas. Além disso eu também estava ferindo outra lei Divina: "Não tirar a própria vida". Por que é isso que a codependência faz, ela te mata um pouquinho todos os dias. Você vai pouco a pouco, se esquecendo de você, se esquecendo de cuidar de você, quando ainda não desenvolve hábitos destrutivos. Então hoje eu tenho certeza: "De boas intenções o inferno esta cheio."




Capitulo 1

Eu não sei direito por onde começar. Faz um tempo que penso que escrever sobre minha vida podia ser interessante. Não que minhas experiencias sejam mais emocionantes, relevantes ou de valor do que qualquer outra, mas penso que pode ser um exercício de auto-conhecimento, pra mim, e porque não, para alguém mais que possa ler e se identificar.
Meu avô escreveu também sobre a vida dele. Ele foi soldado na segunda guerra mundial, e passou por traumas que nem conseguimos mensurar. Desenvolveu Alzheimer, e pessoalmente acho que foi uma resposta do organismo dele, para deletar essas memórias. Ele escreveu sobre a vida dele, detalhadamente, mas a parte da guerra, sobre os traumas, ele não conseguiu se aprofundar.
Não sei também se vou conseguir me aprofundar o tanto que eu gostaria. Mas começar é importante, pelo menos pra mim. Preciso me organizar.
A idéia de escrever um livro me persegue há muito, muito tempo. Sempre gostei de escrever. Achava que minhas teorias sobre as coisas eram boas. Cheguei a escrever um livrinho sobre uma visão  da Genesis do Universo para crianças. Na época foi também um exercício para responder as perguntas da minha filha. O livro não publiquei. Não terminei. Faltou a ilustração, e sinceramente me achava uma Zé Ninguém pra ousar escrever um livro que explicasse a origem do universo. Mas sobre mim mesmo, tenho autoridade pra falar. Ninguém melhor que eu mesma sabe por onde já andei, pelo que passei, pelo que aprendi e ainda tenho que aprender.

(Fiz uma pausa). Por onde começar? Pelo fim? Pelo começo? Quando eu vou a uma sessão de terapia normalmente começo pelos últimos acontecimentos, porque me cansei de ter que explicar desde o começo da onde vinha minha dor. Na verdade também é uma forma de otimizar o tempo da sessão. Já cheguei a ficar 3 horas com uma psicologa, mas agora com o plano de saúde, só tenho 30 minutos. Na verdade faz um tempo que nem a terapia vou mais. Os porquês, deixo pra outro momento.


Então vamos pelo fim, ou melhor, pelo momento atual.

Vou me apresentar: Tenho 35 anos, sou mulher, brasileira, descendente de alemães e por parte de pai não sei direito. Cresci ouvindo que tinha de tudo na família do meu pai : Italianos, espanhóis, índios e negros. Tenho dois filhos: uma menina e um menino, com 12 anos de diferença entre eles. De dois relacionamentos diferentes. Nunca cheguei a me casar. E sempre foi um sonho. Mas a vida pra mim não seguiu o rumo que a sociedade considera normal. Estou recém separada do pai do meu ultimo filho. Vivemos como casados por 3 anos. E acabo de me descobrir codependente.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Se despediu e saiu

As lágrimas rolam sob meu rosto aos poucos. Uma a uma. Parecem pesadas. Sinto como  se tivessem pequenas pedras a rolar sobre minha pele. Ele se despediu, disse q me amava e foi embora. Não consegui sair do lugar. Não chorei de imediato. As lágrimas foram saindo pouco a pouco. Uma a uma. Devagar. Sentia minha respiração. Não houve desespero. Não agora. 
Mas antes cheguei a chorar de soluçar, aquele choro q vem junto com a tortura q nossa mente faz com.a gente. Não era pra ele ter visto, mas viu e quase deixei q minha dor não o deixasse ir. 
Mas ele foi. Talvez em quase 40 anos seja a primeira vez q ele está tomando uma decisão única e exclusivamente por conta dele, sem ninguem opinar ou dizer a ele oq deve fazer. Que Deus te abençoe e abençoe seu caminho. Até breve. 
Agora vou cuidar das minhas feridas, das minhas dores. Vou cuidar de mim. 

Só por esse minuto

Acabei de fazer uma faxina rápida na minha casa... Pq eu me propus a pensar em mim, aí foi natural começar a arrumar as coisas.
Eu, q sempre disse ter dificuldade em cuidar da casa. 
Percebi q era difícil pq minha cabeça tava sempre ocupada com qualquer outra coisa q não fosse eu mesma. Hj foi fácil, e até prazeroso. Mas percebi que o pensamento em controlar ele é compulsivo na minha mente. Foi um exercício muito grande de deixar pra lá. Tipo: eu tenho q me policiar senão eu controlo até o volume da música q ele tá escutando, se ele sorriu pq sorriu, se respirou, se peidou... 
Hj percebi o quão obcecada é minha mente. Várias vezes pensando: "e se eu falasse assim, e se eu falasse assado, ah mas ele precisa perceber isso"... Meu Deus como sou doente! Mas é isso , um minuto de cada vez por hj. Ainda não consigo garantir o dia inteiro. Mas por mais uma hora vou cuidar de mim.

Pai Nosso


Pai nosso, que criaste a tudo e a todos,
Pai da terra, dos céus, das águas, do fogo e do ar. 
Pai que está presente em nossos corações e em tudo que criaste. 
Concede hoje o que necessitamos para nossa evolução,
Nos ensina a perdoar, e alcançar a liberdade e a leveza de sermos vossos filhos,
Livra-nos de todo o mal, inclusive das nossas próprias vaidades e do ego distorcido,
Não nos deixe sucumbir diante das provações e dos desafios de nossa jornada. 

Que assim seja, e assim é. 
Amém.

Canalizado em 25/05/2020

O medo

Tomei a decisão e pedi pra ele ir embora. Dessa vez eu pedi, das outras eu mandei e não deu certo. Agora parece q ele vai mesmo. E agora me vejo com medo. Medo de viver sem ele. Medo de sentir saudades. Medo de ficar sozinha . Medo do que os outros vão pensar: "fracassada, ninguém aguenta ficar comigo." Mas só eu sei oq eu passei nesses três anos. Ainda me pego tentando me convencer q daria certo, me culpando, os "ses": se eu tivesse feito assim, se eu não tivesse feito assado. Tenho medo até que ele se recupere, sem mim. Tenho medo fique ele ache outra pessoa. Que ele suma e nunca mais volte. Que ele se afunde . Que eu sinta vergonha. Tenho medo de recomendar e de cair na mesma armadilha conhecendo outro adcto. Nós últimos dias tenho tentado assistir vídeos da Fernanda, do canal Pra Nascer de Novo. Sei no fundo que é isso que eu tenho q fazer pra ter uma chance de conquistar minha vida de volta. Mas nesse momento que eu escrevo aqui, é pra me conscientizar de como minha codependencia me faz ter todos esses medos. Acabei de ver uma postagem q usava um trecho do filme do Harry Potter , em q dizia q quando compartilhamos nossos medos ficam menores. Preciso fazer esses medos ficarem menores e deixar ele ir embora. 
Estou com medo . 😔 
Pq agente que é codependente ainda insiste em querer um abraco, um colo, um carinho. As vezes até conseguimos, mas é só por um momento, como a droga pra eles.

A ferida aberta vem da infância

Pra ilustrar melhor resolvi contar um pouco dessa minha saga. Sim, porque me lembrei que meu objetivo é contar minha história e não ser...